Os jovens: “parte da Igreja que falta”

O intelectual monge italiano do Mosteiro Bose Enzo Bianchi escreveu: “Era o dia 8 de dezembro de 1965, a data de encerramento do Concílio Vaticano II: na rádio ouvi as mensagens dos padres conciliares à humanidade e fiquei impressionado pela endereçada aos jovens. Senti-a dirigida também a mim, que tinha 22 anos e vivi aqueles dias com esperança e entusiasmo pelo futuro da Igreja. Essa mensagem cheia de confiança realçava como a juventude tem “a capacidade de se alegrar por aquilo que começa, de doar-se gratuitamente, de renovar-se e recomeçar para novas conquistas”. Não só eram reconhecidas a força e a beleza dos jovens, mas a própria Igreja assumia uma nova atitude no seu estar na história e entre os homens e mulheres de nosso tempo”.

Continua: “Devemos admitir que, a mais de 50 anos de distância, a vida da Igreja regista em relação a isso um certo fracasso. Nas últimas décadas tem havido uma atenção à denominada "pastoral juvenil" nunca tão acentuada na história. Infelizmente, esse esforço não foi suficiente, também porque se continuou a pensar numa relação exterior entre a Igreja de um lado e os jovens por outro. Não basta escutar os jovens e defini-los como o “futuro da Igreja” ou as “sentinelas do futuro”. É preciso considerá-los e ouvi-los não como uma categoria teológica ou como uma entidade externa, mas como uma componente da Igreja de hoje, atores e protagonistas desde já. É preciso pensá-los no "nós" da Igreja. E estar também atentos quando, na linguagem comum, se usam locuções como “a Igreja e os jovens”, “a Igreja fala aos jovens”. Quando muito, “os jovens são uma peça que falta na Igreja”, como diz o padre Armando Matteo, professor da Universidade Urbaniana de Roma e assistente nacional da Federação Universitária Católica Italiana.
O documento preparatório para o sínodo sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional (Vaticano, 3 a 28 de outubro de 2018) chama os jovens a “serem protagonistas” e “capazes de criar novas oportunidades”, indicando assim a toda a Igreja caminhos de evangelização e novos estilos de vida. Só uma escuta recíproca, um debate, um diálogo entre todos os componentes do povo de Deus pode desencadear um processo de "inclusão" das novas gerações na Igreja. Este é o desafio do próximo Sínodo, não por acaso preparado, pela vontade do Papa Francisco, por encontros de jovens em condições de tomar a palavra e sentirem-se participantes dessa "conversão" que o papa pede a toda a Igreja. Este escutá-los hoje, no seu presente, é a condição indispensável para passar de uma pastoral "para os jovens" a uma pastoral "com os jovens".
Há de convir o viver de cada atitude de evangelização sob o signo da gratuidade, sem a ânsia de resultados  ​​em termos de aumento do número de jovens sem compromisso com Cristo e sua Igreja. Que haja qualidade evangélica na quantidade em prol de uma Igreja de serviço, comunhão e missionária.
Afirma Bianchi: “A gratuidade é um dos valores mais sentidos e vividos pelos jovens: se ela não aparecer, os jovens desconfiam”. “A minha experiência de escuta, encontro e caminho com muitos jovens convencem-me, cada vez mais, que quando se aproximam para conhecer Jesus ficam fascinados e tocados. A vida de Jesus como vida boa, na qual Ele “fez o bem”, isto é, escolheu o amor, a proximidade, o relacionamento que nunca exclui, o cuidado do outro e especialmente dos necessitados, é vida não só exemplar, mas capaz de fascinar e revelar a possibilidade de uma "bondade" que se quer inspiradora para a própria vida” (*).
Os maiores problemas dos jovens são: os vícios da internet (nomofobia), ansiedade, depressão, dependência química, suicídio e a indiferença com a religião.
O número de brasileiros "sem religião", sobretudo jovens de 15 a 24 anos, tem chamado a atenção dos estudiosos. A ideologia secularizante, prática ateísta, gnóstica e os desigrejados que são aqueles que acreditam em Deus, mas rejeitam instituições religiosas. O fator do não pertencimento é uma realidade concreta e o grande desafio da evangelização é saber alcançar, encantar e incluir numa nova configuração de abissal vivência da fé cristã!
Há de considerar com certeza a gratuidade que solidifica na cultura do encontro, não com uma ideia, uma filosofia, uma ciência, ou de bens materiais, mas com uma pessoa e essa pessoa é Jesus Cristo. Dentro desse contexto os jovens fazem parte da Igreja no amor de Deus e no amor pelo próximo.
Frei Inácio José do Vale
Professor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cárita

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